... e não me venha com chorumelos!

Insanidades e afins postadas pelas mentes mais obscuras que rondam o meio virtual.

quarta-feira, abril 13, 2005

A peleja de Sueli e Aristóteles

Na minha exaustiva andança com vistas a tornar o mundo um lugar mais agradável e culto para se viver, me vi frente ao fardo de tentar mudar alguns conceitos errôneos deste plano. Como um andarilho incansável e perspicaz, nada melhor do que começar na própria casa, ou melhor, república.
Após acordar com uma daquelas indisposições e ressaca moral que só uma noitada bem vivida pode-lhe ofertar, segui meu rumo para o curso de francês, que insisto em fazer acreditando ser uma língua aplicada que permite divagações filosóficas, políticas e artísticas que só nela se fazem possível por razões conceituais, ao contrário de outros idiomas mais toscos (vide o alemão).
A cena que se passa posteriormente é eu com dor de cabeça e com uma diarréia explosiva digna das causadas pela extinta cerveja "Malt 90", aquela da lata verde, adentrando a sala de aula sendo saudado com um "Bon jour" ao som de "Marseillase", hino da França cuja letra fala de ideais mais velhos do que a posição de cagar.

Pois bem, cumprido o dever da aula, retornava eu para a república pensando em francês como tenho o costume de fazer após a aula desde o dia em que sonhei no mesmo idioma - apesar da cena do sonho ter se resumido à uma baguinha francesa se engraçando para mim e a única coisa que eu disse a ela foi "Il fait chaud..." (Tá quente aqui...).
Nessa andança de volta, entre algumas ninfetas e outras, meus pensamentos remeteram a Aristóteles e algumas premissas que tratara em um texto recentemente estudado na disciplina de Política Comparada. Coisas como virtude, conhecimento científico, sabedoria prática, fins e bens praguejavam suas premissas na minha cabeça que nem me dei conta quando cheguei em casa.
Após a mini-higiêne pessoal requerida por uma subida de uns 20 metros, me dirigi para a cozinha a fim de praticar o ritual de praxe: tomar água, pegar uma bolacha, xingar o cachorro e ir pra sala jogar Winning Eleven 4. No intercurso me deparei com Sueli (a empregada da república), mulher de fibra e não polida, que vinha varrendo a cozinha frenéticamente sem olhar pra cima e como de costume varreu meu pé:

-Pô Sú!

-...que foi?!

-Ó meu pé ae pô...

-Ah!...Tem dó minino! (e segue varrendo)

Comecei a reparar na empregada (não da forma que já estão cogitando). Ela vive ouvindo uma emissora de rádio onde um radialista caipiro-facista vive a xingar os alunos da Unesp ao vivo:

-"É vândalo!"
-"É esses que vão ser os tais doutores?!?"
-"É aluno da Unesp!! Aluno da Unesp!!"

Brada sempre o infeliz na manhã após cada noitada de festa quando inventam de mijar na porta de velório, nadar pelado na fonte ou inverter placa de rua.
Reparando nisto perguntei à Sueli:

-O Sú...!

-Que?!

-O que você acha desse caboclo ae da rádio?

-O Chamberlei da Silva? (não lembro o nome)

-É Sú.

-Ele é bão! Votei nele. E ó, esse avental ganhei na campanha dele, ói só...

-Mas ele vive xingando os alunos da facul Sú...

-Ah...mais o pograma dele é bão.

-Só dá notícia de estupro e sapateiro atropelado hein...

-Ah...mais é bão, o pobrema é que de veiz em quando toca umas música de igreja.

-Então Sú, eles tão cooptando quem ouve para virar crente.

-Copata...o que???

-O Sú, esses caras não são homem justos, se valem dos vícios do ser humano pra não terem que justificar sua ausência de caráter. Aí montam igrejas e assim escamoteiam seus fins maléficos.

-... (não obtive resposta)

-Você num gosta do bispo não né Sú?!

-Não, o bispo é ruim meu marido falô...

-Então Sú...

-Ah vá! Ocê só faiz estrovar...

Desta forma terminou meu diálogo e tentativa de mudar o mundo por ora. Fui jogar videogame.

...e não me venha com chorumelos!