Um Dia de Fuga

Bom, vamos lá. Agora como diria Raul Seixas, todo mundo explica. Pipocam entendidos no assunto PCC x Estado, coronéis de pijama aproveitam para bradar pela pena de morte e as soluções são as mesmas: Tem que revistar, tem que prender, tem que cortar o sinal de celular, tem que matar, tem que fazer que nem na conchincina...Já vou esclarecendo que nesse texto não abordarei questões sociais e de administração pública, portanto não vá dizendo que o buraco é mais em baixo pois eu sei muito bem onde é. Me abstenho dos "tem que" e coloco o primeiro ponto de vista. Pior do que os ataques em si, foi a onda de boatarias que se espalhou apartir do meio-dia desse 15 de Maio passado. Ouvi de tudo, de tiroteio na praça que chacinou 10, à bomba em loja de departamento. De fato o clima entre a população estava tenso, mas não a situação em si.

Separemos o joio do trigo:

- Os ataques armados à policiais, bases de polícia e fóruns: PCC
- Os ataques à bancos, postos de gasolina e ônibus: Qualquer um com arma e má vontade
- As ameaças à escolas, aeroportos, comércio...: Aproveitadores

É a sequência da indústria do terror, vide 11 de Setembro. Ataques ao WTC e Pentágono, Al Qaeda. Ataques com antrax, qualquer um com motivo. Ameaças de homem, carro e frango bombas, aproveitadores. Fiquei puto ao ver o balanço final de tudo isso, para quem ligou a TV parecia que havia uma guerra civil em curso. As emissoras não pouparam sensacionalismo e de forma propositalmente inocente aumentavam o número de vítimas e ataques de acordo com os relatos, mesmo sabendo que eram relatos de um mesmo fato. O resultado foi o caos. Simples Josés da Silva correndo pra casa com receio de que o PCC estivesse interessado em suas misérias. Cidades rurais que mal têm 10 mil habitantes seguiram o mesmo roteiro da capital. Deviam temer o Primeiro Comando Caipira ou algo assim.

Confesso que fiquei muito receoso no início, mas mesmo assim sai de casa e fui checar a situação por conta própria. O que encontrei foram diversos carros circulando nas ruas em busca de um pão ou algum suprimento de emergência, e acreditem...não havia, em plena segunda feira de uma cidade com quase 1 milhão de habitantes não havia onde comprar pão. É claro que as autoridades deveriam ter se preocupado em reservar 5 minutos de atenção para acalmar a população em rede nacional, em vez de dedicar o dia todo à barganhar com presidiários. Considero essa falha, mas me desculpem... ô povo bunda! Ou se deixou amedrontar facilmente ou quis pela primeira vez se trancar para sentir que as grades elétricas e alarmes foram um ótimo investimento.

Só para efeito de comparação, os colégios e universidades do Rio de Janeiro muitas vezes não encerram as atividades nem quando sob fogo cerrado. Ninguém volta mais cedo pra casa quando o morro desce, e tá pouco se lixando se tem tiro voando que nem mosquito em volta de merda na linha amarela, pega-se o onibus e reza. Londres não parou nem no dia e nem no dia posterior aos ataques à bomba. O Iraque abre todos os seus mercados todo dia, mesmo sabendo que são candidatos a virarem estatística. Agora...que povo é esse? "Ah, mas é muita insegurança..." Ah tá, imagino o quão inseguro deveria estar se sentindo os mendigos do viaduto do chá...pois ontem às 16 horas não havia nenhum lá, creio que temiam por sua vida ou pertences...aliás, me questiono pra onde todo esse pessoal foi? A população do Estado de São Paulo ontem virou e agiu como gado. Parece até que a Constitucionalista foi no Rio...

...e não me venha com chorumelos!