Cachorro no rabo dos outros e refresco

Outro dia foi visitar " O Sem Acentos-Pai" quando numa revolta subita de meu intestino fui lancando ao estagio "perrengue-absoluto." Minhas glandulas produziam tanto suor em harmonia com os movimentos peristalticos que parecia que eu segurava o mundo com as pregas. Corri para o banheiro e para meu desespero meu pai se banhava. Ensaboado ele gritou, "vai cagar no banheirinho da empregada." Despojado dos pudores que envernizam a classe-media brazilis, me botei a obrar no ambiente destinado a servical.

Sem muita cerimonia botei a bundona branca na tampa de plastico e deixei a fisiologia me levar. Envolto no cheiro de cigarro do pequeno sanitario, caguei como nunca, ato no qual fui amplamente ajudado pelas tirinhas da Folha de SP que me garantiram o conforto psicologico pedido no ato. Ao final, me restou desesperadamente olhar a minha volta e constatar que papel ja nao tinha ali. E como havia cagado com muito esmero, merecia uma boa kilometragem do papiro. Clamei por ajuda.

Novamente o pai veio me ajudar. Nao o que mora nas nuvens, mas o barrigudinho que visitava. Ele foi sucinto: "Olha o armarinho amarelo" (incrivel como tudo referente a empregadas vem no dminutivo. Armarinho, banheirinho, quartinho...). De calcas arriadas, bunda melada e movimentacao limitada pelo espaco, me dirigi ao armarinho como quem busca o segredo do Santo Gral. Para meu alivio, se e que poderia ficar mais aliviado depois de cagar aquele rodizio de churrasco, havia um generoso estoque de papel e limpar a bunda seria uma questao de segundos.

Foi ai que me veio uma cacetacao da porra. A embalagem de plastico que carregava os rolos do papel Scott (e sempre bom dizer a marca para que assim o desarranjado leitor nao passe pela situacao que passei.) tinha um cachorrinho como "rotulo." Era um desses filhotinhos de pet-shop que madames, criancas, ecologistas, adeptos da geracao saude e abichanados em geral se derretem so de ver. Mas eu nao! Com a dignidade de um soldado, daqueles que se preocupam com o que vai ou deixa de ir no rabo, me botei a pensar. Porra, quem disse que um cachorrinho vai me fazer sentir mais confortavel em passar no meu furaco papel de qualidade mais questionavel que as politicas de seguranca do estado de Sao Paulo? So podem estar de brincadeira! Ainda mais comigo, que nunca fui chegado em animaizinhos. Coisa de altissimo mau gosto, beirando os requintes sordidos dos zoofilos.

Mas ai vem o "doto" em semiologia dizer que os pelos do cachorrinho transmitem nocoes de leveza, conforto e maciez. Pera la, um cachorro no meu rabo nao deve ser nada macio. Que belo eufemismo, se e que assim podemos chamar.

Mas tem sido assim ate no cu do mundo. O mundo e belo e de repente aparece uma guerra no Libano. Orra, a Globo mandou ate correspondente para la. Mas nossos telejornais pecam e pecaram ao nao discutirem as razoes que conduziram ao conflito, os problemas historicos e bla bla bla. O que se sabe e que uma familia de brasileiros de decendencia libanesa cantou o 37 enquanto Israel massacra mais alguns muculmanos que sao apresentados como viloes uma vez mais. Nessa peca sem contexto, nem para avisar que a familia de "Salins" morta foi enterrada em um caixao so, por contencao de despesas exigidas no testamento. E telejornalistas, que cobertura xinfrim! Tao ruim quanto o papel que foi na ultima porcao do meu aparelho digestivo.

Falando nisso, so me botei a higienizar meu rabo, ainda assim com certa relutancia, quando percebi que este ja entrava num processo de assaduras. O papel Scott me levou longe com seu mascote, mas me trouxe rapidinho a realidade com sua superficie aspera.

E para findar, o leitor deve estar se perguntando o que o meu butico tem haver com a cobertura da grande midia de mais um conflito no oriente medio. O que o cu tem haver com as calcas? Ora uma guerra mal reportada e o meu cu so podem terminar em bosta. A diferenca e o peso na escala global.

...e nao me venha com chorumelos!