... e não me venha com chorumelos!

Insanidades e afins postadas pelas mentes mais obscuras que rondam o meio virtual.

domingo, fevereiro 27, 2005

Circo de Horrores


Devido a quantidade de tempo que gasto em viajens, a maioria deste indo e voltando para os mesmos lugares, é impossível não deixar de fazer análises profundas sobre fenômenos que a princípio nos passam desapercebidos. Em longas viajens de ônibus uma coisa é fato: Tem hora que você beira a insanidade pois, já leu tudo o que tinha para ler, já dormiu todo o sono atrasado do mês, já ouviu todos os CD's do case e, mesmo que restasse algum, seus ouvidos não suportariam mais aqueles fones que machucam. É só então que você começa a reparar no que cerca o veículo em rápidas passadas e apartir disto faz uma análise profunda do objeto.
Entrando e saindo de São Paulo e demais cidades que já caguei, comecei a reparar na existência dos circos. Não o Circu du Soleil e iguarias de mega produção, mas sim aqueles circos de cidade com tendas iluminadas, luzes espalhafatosas, palhaços, trapezistas e demais firulas. Fui percebendo, a medida que ia e voltava de viajens, que alguns circos ficam instalados no mesmo lugar por anos, imóveis, como um funcionário público. Então me perguntei: Será possível que circo dá tanto dinheiro e que é porisso que eles ficam parados lá "lucrando" por anos??
Utilizando meus humildes conhecimentos em gestão de negócios adquiridos na faculdade (nas poucas aulas que fui...), logrei uma resposta negativa: O circo tá é fudido.... E explico porque.
Pois bem, um circo vem de outra cidade em sua comitiva, já com um lugar (terreno) pré definido e acertado, e alí se instala. Já começam aí os gastos. Seja terreno da prefeitura ou particular uma coisa é certa, aluguel. O próximo passo, as instalações do circo, também óbviamente irá demandar um grande número de funcionários, pois só a família circense (o dono e os artistas) seriam insuficientes e incapazes de tal engenho. Passado isso e finalmente "armado o circo", é necessário um trabalho e um período (e mais gastos claro) de divulgação do circo na cidade, o suficiente para realizar-se a primeira sessão. Com o circo funcionando, é imprescindível a contratação de mais funcionários: limpeza, etacionamento, guiches, portaria, segurança, etc. Soma-se a isso a manutenção do mesmo, tanto a física quanto as fisiológica, uma lâmpada aqui,uma lona alí, os materiais de uso artístico e alimentação pra família circense. Isto sem contar a alimentação dos animais, quanto vocês acham que se gasta para alimentar um leão e um elefante durante um mês? Eu não sei, mas devem ser valores obscenos, sem contar o gasto com veterinário e o fato de que constam no circo muitos outros animais.
Tudo isto supracitado é claro tendo que estar de acordo com a legislação, e creio que um circo deva ser alvo fácil da máquina municipal, dado que é forasteiro e não possui laços de interesse na cidade na maioria das vezes, ou seja, funcionários (mesmo que temporários) devidamente registrados que adoecem exigem 13º e tudo mais, alvarás (vigilância, juizado, ambulância, bombeiros...) e generalizando, impostos devidamente deduzidos e, é claro, mais o IPTU.
Agora já tendo uma noção "por cima" do custo do empreendimento eu pergunto: Quem é que em pleno século XXI vai ao circo?? É claro que muitos de nós, sênis que somos, iremos responder que já fomos muitas vezes, mas isto nos idos de sei lá quando. Mas hoje em dia qual criança de classe média trocaria 4 horas em uma Lan House por uma sessão de circo? Considerando ainda que uma sessão de circo deva custar de 5 à 10 reais e, 4 horas de Lan House só 3, isso se você não for amigo do cara que toma conta pois, neste caso acaba saindo na vasca. Falando a verdade, que criança de classe média não tem um computador em casa com conexão banda larga? Pronto, está acabado o circo. Com esta dificuldade de público o circo deveria cobrar muito caro, mas, geralmente sempre haviam promoções que criança até 12 anos não pagavam.... E por fim leva-se em conta que a família nunca vai completa ao espetáculo, ao circo se vai ou só com o pai ou só com a mãe, isso quando não é o tio pois, não há saco adulto cristão pra aguentar circo. Ou seja, cobra-se só do adulto e, como o valor do ingresso não é elevado, não é necessário maiores esforços pra concluir que o circo que outrora levou alegria à plebe, hoje em dia só leva é prejuízo.
Nesta situação, o circo acaba ficando hospedado por meses no mesmo terreno (geralmente da prefeitura) sem pagar aluguel e, quando muito consegue não levar prejuízo, só empatar, não conseguindo formar caixa suficiente para desmontar e mudar-se para outra cidade, dado os elevados custos. O resultado deste negócio falido é o que vemos poraí. Aqueles circos com as lâmpadas queimadas, lona rasgada, animais mal alimentados, aquele leão magro que mal ruge, trapezistas com cara de fome, palhaços de barba malfeita, enfim, um circo de horrores.
E não me venha com chorumelos!