... e não me venha com chorumelos!

Insanidades e afins postadas pelas mentes mais obscuras que rondam o meio virtual.

terça-feira, março 08, 2005

se conselho fosse bom... montava franquia

tempos estranhos estes, esta nossa subcultura pós-zero onze catorze zero meia. são tantas opções para se enriquecer trabalhando por conta própria no horário livre que começo a me perguntar porque o brasil não vai pra frente.

aos poucos, o bom e velho e gratuito conselho de se vender conselhos ao invés de cede-los teve sua leitura escamoteada, facilitada pelo frenesi do capitalismo global e a caridosa esperteza duvidosa de alguns poucos. a máxima em questão provavelmente era utilizada pela sua avó quando aquela vizinha enxerida vinha meter o bedelho no namoro da filha dela com aquele rapaz do fim da rua. ou quando aquele primo chato vem oferecer para você aquele ótimo investimento financeiro. a frase era assim utilizada para barrar aqueles que tentavam opinar em situações nas quais não eram nem um pouco bem-vindos - questionando qualquer ato supostamente beneficente. e só.

até que um dia algum esperto resolveu levar essa idéia a sério – e vender suas "brilhantes" soluções. nada que já não houvesse sido feito ou se tornado práxis no mundo dos negócios: bem-sucedidos profissionais e suas bem-sucedidas empresas mostraram os benefícios de se cobrar pelo uso fruto dos frutos do patrimônio intelectual de alguém. use nossa receita de sucesso dizem eles, abram franquias, bradam outros. é tudo uma grande troca, eu lhe dou uma solução tecnológica e você me dá um dinheiro, eu lhe dou uma marca conhecida e você abre uma franquia – sem esquecer do meu. conselho bom, conselho vendido.

a diferença deste esperto para os outros estava na genialidade da idéia – e no esforço embutido na idéia. enquanto você oferece uma parceria genial, o espertão oferece a apenas a solução. todos aqueles panfletos, mensagens eletrônicas, anúncios, informes publicitários e inserções televisivas em programas de baixa qualidade (ou não) prometem aos primeiros, dez primeiros, cem primeiros, mil primeiros, todos os primeiros – do primeiro ao último – as formas mais rápidas de enriquecer e tornar-se um magnata, um belo exemplar do self-made man. tudo soa tão funcional que ainda me pergunto porque os governantes de nossa nação não enxergam nestes fulanoshop a solução para o desemprego e distribuição de renda em nosso país.

as soluções vêm nas mais diversas formas, seja em forma de produtos, seja com gurus e seus livros de auto-ajuda financeira cativos na seção dos mais vendidos. o problema é a real eficiência daqueles "monte você mesmo sua empresa de fundo de quintal fazendo belas tranqueiras com o mais novo tranqueira-matic 3000". você realmente acredita que ray crook venderia abertamente suas técnicas de produção de batatas fritas, hambúrgueres e outros se elas não fossem rentáveis? ou então henry ford: vender a idéia da linha de produção para algum outro empresário ou aplica-la construindo assim um forte empresa automobilística? e quanto ao dono do habib´s e sua primorosa técnica de produzir esfihas em tempo recorde: teria ele ficado mais rico indo a programas matinais de culinária? no caso destes (e outros) pioneiros, franquias, registros, direitos autorais, royalties, taxas, etc foram solução indiscutível para fazer prosperar a magia do capitalismo. aliena-se a todos do processo de produção e entrega-se o produto pronto – ou então, cobra-se uma singela taxa pelo conhecimento do processo. simples e tão antigo quanto guaraná com rolha.

mas o nosso espertão teve uma idéia esperta e resolveu vende-la. ou porque ele é um cara muito caridoso ou porque ganhou um bom dinheiro para fazer uma visitinha à ana maria. ou porque sabe que sua idéia é muito melhor para ser vendida do que para ser posta em prática, verdadeiro ouro de tolo. eficiente é a venda destas parafernálias que prometem montanhas de dinheiro a quem enfeitar suas roupas, calçados, gatos e cachorros e tentar vende-los. quando algo é realmente lucrativo, ninguém canta aos sete ventos o porquê. faça você mesmo – e cobre todos que quiserem imita-lo. ensinar ainda pode ser mais lucrativo do que fazer – estranho isso acontecer por aqui, onde quem ensina está cada vez mais desvalorizado.

...e não me venha com chorumelos!

1 Comments:

Blogger Marcelo Case said...

Muito bom o texto quando vivemos a era da informática e de tudo o que é pirata e onde o ensino é coisa que se compra. Gostei. Ah, descobrio blog de vocês pelo blog da Paula Dias, ok?

13:37  

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