Sobre o tiroteio na estranja
Ser expatriado e foda. A familia e os amigos so entram em contato sob duas circunstancias: 1) para pedidos de muamba quando uma visita a terra mae parece iminente; 2) quando a grobo resolve colocar na pauta do jornal nacioneba alguma material de “impacto” sobre a terra do tio Sam, daquelas narradas como se fossem a verdadeira transmissao do juizo final.
Sendo assim, minha segunda-feira nao poderia ter sido diferente do padrao. Gracas ao tiroteio na Virginia Tech, o dia foi regado daquelas colocacoes infames que brasileiro adora fazer, como se estivessem felizes com as cagadas em terra alheia. Tipo, “E o ‘seu’ pais, hein? Banhado em sangue!” Para dar um basta na repeticao do papo, me vi obrigado a tirar a mao do saco e assim redigir essas linhas, ainda que eu habite a costa oposta a do tiroteio. Pode ficar contente, impavido brazuca, ta tudo bem por ai e vamos rir do massacre ianque.
Entre uma Guerra e outra, sempre rola um tiroteio desses nas escolas para lembrar a raposa Americana que o seu proprio habitat e selvagem. E nao me refiro aos filmes, musica e a midia. Tambem acredito que, apesar de contribuir, o direito sagrado de comprar armamentos como quem compra pao estampado la na terceira emenda da constituicao nao explica a periodicidade de fatos como esse.
O problema maior esta no culto ao individuo. Nos EUA nao existe comunidade, fraternidade e divisao. Quem ganha e o individuo, o eu sozinho, o que talvez explique ate o repudio pelo futebol com seu igualitario empate. Numa sociedade na qual existem apenas ganhadores e perdedores, quem nao faz parte do primeiro escalao como individuo unico automaticamente e jogado a vala dos descartaveis. E fica ai a fragmentacao da identidade. Se o cabra nao pode se afirmar como individuo, sua identidade e engolida, despedacada, destruida. Sem identidade, nada mais natural do que um ataque as instituicoes que garantem o sistema que premia o individual.
Ataques especificos a instituicoes de ensino se devem ao fato dessas serem parte fundamental da vida pessoal e professional do jovem Americano. O universo do jovem ianque revolve em torno da escola. Um jovem que tenha negado os premios nesse mundo, nao tem para onde recorrer e os mais doidos preferem dar um fim nele.
Alem disso, a cultura de restricoes e repressao ao jovem que aqui vigora - nao pode beber, nao pode sair, nao pode meter, festa acaba as duas da manha – acumula muita energia que de uma forma ou de outra volta. Em alguns casos, genios aparecem, pois nao fazem nada alem de estudar aquilo que lhes interessa, mas em outros acontecem tragedias como essa. Ao inves de reprimir mais, e hora de soltar a molecada. O resto e historia.
Post serio, nao? Amanha voltamos com a programacao normal.
…e nao me venha com chorumelos!
1 Comments:
O que acontece aí (esses malucos que de vez em quando aparece) é apenas um efeito colateral de um remédio que funciona. Aí há individualismo. Aqui há fraternidade e solidariedade. Isso quer dizer que somos capazes de movimentos coletivos? Claro que não. O que se vê é pasividade e resignação. E como todos esperando que o Estado resolva todos os seus problemas ao contraário dos EUA onde todos tratam de ir á luta. Até mesmo pelo culto ao indiviadualismo que vc citou.
Quanto ao deleite dos brazucas por fatos como estes, é puro recalque e inveja anti-americana. Não teve idiota que vibrou com a queda do WTC?
Abs
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