Ilustres Desconhecidos e Fama Marginal: os gringos no mercado fonografico Brasileiro
As beiras do show do Hanson, a famigerada versao branca dos Jackson 5 que emplacou no meio da decada de 90 a grudenta onomatopeia Mmmbop, e merecida uma reflexao sobre o que realmente faz sucesso no Brasil. A pequena analize que essas linhas sugerem nao aponta seu foco para o que produzido em terras tupiniquins, mas sim o que aporta aqui com o devido rotulo ¿made in Estrangeiro.¿ Como de praxe, quase tudo o que vem de fora parece ganhar um ar de superior no Brasil. Maldita heranca colonial. Artistas dos mais variados estilos como Hanson, The Calling, Live, Dream Theather, Joe Satriani, entre outros, chegam ao pais com pompa, moral, e renome de artistas internacionais. Num pais carente de entretenimento, fica facil engolir essa retorica dos promotores dos eventos e das fieis bases de fas. Ao olharmos, no entanto, como tais artistas se comportam em outros mercados, fica facil perceber que tudo nao passa dos efeitos de marketing. Claro, nao me refiro ao talento dos artistas em questao, isso esta fora do argumento. Marketing aqui se refere pura e estritamente a ¿fama¿ que tais artistas possuem em terras Brasileiras.
Ao compararmos o Brasil, um mercado pequeno comparado a outras potencias, com os mercados Americanos e Ingleses notaremos fatos curiosos e grandes nuances. O caso de Hanson e The Calling sao os mais curiosos. Na terra do tio Sam essas bandas tocam em pequenos teatros que nao comportam mais do que 300 pessoas; no Brasil...bom, no Brasil voces ja conhecem a cena: fas deseperadas, choro, gritaria e e shows em casa que comportam pelo menos 5000 pessoas. Em termos de execucao de radio o fenomeno se repete. Os casos dos virtuosos do Dream Theater, ou ate mesmo dos vovos do Iron Maiden, fazem volume a lista de artistas bem sucedidos no Brasil e de notoriedade marginal nos 2 maiores mercados mundiais. A dama de ferro, por exemplo, teve que cancelar 2 shows em NY na sua ultima turne num teatro de 5 mil pessoas devido a baixa vendagem de ingressos. Outro elemento que aponta para as particularidades de como definimos o que sao ¿artistas internacionais¿ se da no fato de muitos artistas que estao no topo em terras Estadunidenses e Britanicas serem meros desconhecidos por aqui ¿ salvo obviamente pelos circulos de fas e nerds em geral. Em 2003, o maior single da Inglaterra era a versao de ¿Mad World¿ do Tears for Fears que Gary Julez gravou para a trilha de um filme. Na atualidade, a maior banda americana deve ser o The Killers, do single ¿Somebody Told Me,¿ e parecem ainda nao terem emplacado na terra do Pele.
Mercados, claro, sao coisas complexas de se analizar. O proprio The Cure, banda de estadio nos EUA e de teatrinho na Inglaterra, nos mostra que nao somos um mercado anormal, mas diria, no minimo, curioso. O que levaria o publico brasileiro a idolatrar, por exemplo, o Faith No More, uma banda que sempre gera reacoes nos EUA como ¿Faith no More...humm...aquela que tocava um rap-rock faz tempo¿? Seriam raizes culturais, nossas parcialidades e/ou visoes particulares que nos levariam fazer escolhas as avessas? Ou seria a maquina capitalista? Com a palavra sociologos...
A conversao dos mercados parece se dar somente em determinadas epocas, ou com determinados e abencoados artistas. Talvez o maior exemplo seja a cena de Seattle no inicio dos anos 90 no qual jovens americanos, ingleses e, pasmem, brasileiros ouviam os mesmos artistas. Era a explosao do alternativo, a epoca do Reading Festival na Inglaterra, do Lolapallooza nos EUA e do Hollywood Rock no Brasil. A diferenca, como diz a expressao inglesa, e que ¿life goes on.¿ O tal do grunge foi para as ¿cucuias¿ e novos artistas comecaram a pipocar no perido pos-Seattle em terras gringas. No Brasil ate hoje tem gente de camisa de flanela achando que Alice in Chains and Soundgarden sao coisas alternativas.
Pior do que isso, a geracao de Kurt Cobain e Eddie Vedder pavimentou o terreno para que a geracao ¿Creed¿ se apossasse do conceito ¿artistas internacionais.¿ A geracao Creed engloba todas aquelas bandas comerciais que manuseiam de uma forma bem mais polida o legado da turma de Seattle. Voz grossa, como se tivessem uma batata na garganta, acordes melosos e radicalismo enjaulado. E la vai a turma do proprio Creed, Niquelback, 3 Doors Down, The Calling cativando audiencias brasileiras enquanto seus desempenhos em terra natal sao risorios. O que explicaria a ascencao de tal geracao no Brasil? O que faz com que os gringos rejeitem essas bandas e os brasileiros, em geral (excluou de novo os xaropes fas), as recebam de bracos abertos? Seria ate ignorante afirmar que somos ¿anti-gringos¿...
Para completar, a nossa definicao e decodificacao do que sao artistas internacionais e tao estranha que os nossos artistas que consideramos internacionais nao passam de ilustres turistas em mercados gigantes. Ate o Sepultura, talvez a nossa unica banda a realmente cativar publicos na America e na Inglaterra, vive uma crise de identidade, no qual nao consegue mais do que ficar relegado as pequenas sessoes de Heavy Metal com outras trocentas bandas gringas pequenas. Enquanto isso, bradar que o Angra, Shaaman, Dr. Sin, e outras, sejam artistas internacionais, e forcar a barra. Pelo menos os headbangers americanos e ingleses nunca ouviram falar, e a exposicao ridicula ate na midia especializada internacional confirma isso. E afinal, se tocar em pequenos clubes fora do pais e sinal de ¿fama internacional,¿ desistirei do tema, pois me recuso a usar o titulo para Carlinhos Brown e os Tribalistas.
Como disse o jornalista Walter Lippmann nos anos 50, a dificuldade para qualquer comunidade em assuntos internacionais e o fato de conhecerem quase nada sobre as realidades externas. Ao conhecermos as caracteristicas dos maiores mercados fonograficos internacionais e desenharmos comparacoes ao nosso, podemos definir o quao largo estarao nossos bracos a proxima vez que um gringo bater na nossa porta falando que e artista.
E nao me venha com chorumelos!
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