... e não me venha com chorumelos!

Insanidades e afins postadas pelas mentes mais obscuras que rondam o meio virtual.

domingo, novembro 27, 2005

[schízein­­²phrén³ía­¹]º

ºtemos aqui, entre duas paredes, as personagens substantiv
¹do grego tenho que ao tônico que ocorre em substantivos eruditos ou semi-eruditos, já existentes no grego, ou formados no vernáculo, a função de moléstia;
²do grego também, tenho que ao elemento de composição, usado pela área médica, cabe o ato de fender, como o faz em cabeças, células, emoções e as demais coisas;
³do grego ainda e por quê não? tenho que uma das demais coisas será a alma e o espiríto - ó redundância cotidiana! -, atacada pela moléstia que fende a alma.

rodapé pronto, vamos direto ao assunto. pensava em Bakhtin quando percebi que aquele papo de discurso com muitas vozes, aquele negócio de assinar com nome diferente, aquelas mistura de termos e verbos e advérbios e complementos (pro)nominais, bem aquilo era moléstia em seu mais puro grau de ciência.

pois se ele dizia que um texto na verdade nunca era de autoria única, e sim de uma coletividade individualizada em átomo, então o que escrevo não deve ser assinado, ao menos não com meu nome. o discursista é então um esquizofrênico, pobre coitado que tem a alma (muitas vezes simbolizada pela cabeça, onde fica o cerébro, local de ação de patologias psicológicas) dilacerada e como que por cissiparidade, acaba por carregar muitas almas. e alma pesa!

pesa tanto que é mais fácil carregá-las como som do que como matéria (apesar de alma não ser matéria, enfim) e aí chegamos num ponto que a física não chegou, mas que o cerébro desbrava há muito! o russo lá pegava essas vozes, que um dia foram matéria, e as transformava novamente em matéria, também codificada. tudo à base de carbono e outras letras. então ficava assim, um texto esquizofrênico, cheio de vozes. porém eram vozes exorcizadas, não ficavam por aí rondando e perturbando. ficava tudo catalogado, registrado e avaliado, sem voar. mas era a esquizofrenia controlada, dominada pela aguda ponta de grafite ou de pena ou bolígrafa; era a terapia literária. mas acabou não dando muito certo, senão o mundo não estaria tão cheio de fendas com está hoje. too many protest singers, not enough protest songs, situação análoga. muito barulho por pouco.

e por falar em voz e código, li há uns tempos que uma pesquisa de alguma universidade por aí no velho mundo (ou no novo, não sei, o mundo não foi criado de uma vez só?) que os cientistas concluíram que a voz da mulher compreende uma gama enorme de frequências que precisam ser codificadas pelo cerébro humano para assim ser entendida. nos homens, isso tem um efeito bastante interessante: o cerébro masculino precisa se esforçar mais que o normal para entender o que as mulheres dizem, daí a ocorrência comum de maridos que dormem durante o parlatório pós-coito - bem, talvez aí não seja apenas a voz feminina. como a voz da mulher exige mais cerébro masculino, há um cansaço mental maior e consequente desinteresse de nossa parte - portanto não nos culpem caras leitoras!, somos apenas vítimas de vocês mesmas, digo de suas vibrantes e delicadas cordas. daí também uma conclusão: esse resultado talvez explique o fato de que grande parte dos esquizofrênicos e outras pessoas que sofram de alucinações (essa derivada do latim mesmo) ouvirem vozes masculinas. trata-se de uma quase obviedade: é mais fácil criar uma alucinação mais simples do que uma complexa e é mais fácil gerar de maneira patológica uma voz masculina do que uma voz feminina - aquele papo de frequências codificadas, etc.

...e não me venha com chorumelos!