Turista? Pega Aqui!

O telefone rasgou a madrugada em minha casa. Era o Prometeu. Havia acabado de foder uma bruaca de quatro costados e entorpecido pelo odor de Pinho-Sol da crica decidiu prestigiar esse badameco que aqui escreve. Prometeu estava atônito, pois entre uma foda e outra sintonizou um daqueles canais cujas freqüências são captadas somente pelos motéis do sentido Rio da Via Dutra. O impávido amigo e colunista ouvira falar sobre o tal filme que representa o Brasil como o de sempre: selva, sexo e violência permeados por muito espanhol. Como correspondente internacional do blog, Prometeu me exigiu essas linhas.

Eu já escrevi com molho acadêmico a respeito da construção da imagem brasileira no cinema americano (com o perdão do jabá, o texto na integra se encontra aqui http://www.higherstate.blogger.com.br/), então não irei muito a fundo em tópicos como a contrucao do mito, a necessidade de construirmos a imagem do nacional e não esperar que seja nos dada pelos gringos, entre outros assuntos que causam cacetacao alheia. O importante notar e que o mito e a repetição de certas ideias, excluindo outras tantas, a respeito de um pais que podem ser baseadas em fatos reais ou não. Trocando em miúdos, todo mundo na terra onde canta o sabiá fode, bebe e acha que fala espanhol, mas isso necessariamente não descreve um país como um todo. Quem manda querer construir a imagem de um povo festeiro? A diferença entre fazer festa e o ninguém-de-ninguem é uma mão no peitinho errado.

O que na atual situação me deixa cabreiro é que a violência aos poucos vai se tornando mais um elemento do nacional aos olhos internacionais. E isso sim é preocupante porque nós sabemos que ela está aí e cresce cada vez mais. Cabe ao Brasil reverter isso e voltarmos a ser felizes descendentes do Zé Carioca, fodendo enquanto fodido. Uma vez que uma característica se torna mito, dificilmente é revertida, assim como a quebra da castidade.

No mais, o tal filme me parece um contra-ataque dos gringos ao nosso modo sutil de foder com turistas quando estão aqui. Isso me lembra um caso no qual um dos amigos dos colunistas abordou numa balada um belga, daqueles de camisa florida, bermuda acima dos joelhos e tênis reebok extremamente branco 2 numeros maior do que o necessário. O nosso amigo pediu para o gringo extender a mão com a palma aberta para cima. O amigo então tirou pelos do seu felpudo peito e depositou algumas mudas capilares na mão do gringo, que ficou olhando perdido, sem reação. Ao ver que o gringo aceitou os pelos, o amigo gritava para balada inteira: “o cara é bixa.” Coisas do Brasil. É claro que Hollywood não ia ilustrar seus amados filhos como a peculiar figura traumatizada pelo meu amigo, e por isso mandou gente com o padrão reality show de beleza. A lógica disso é: com gente bonita não se faz presepada. E a mensagem vindo das latitudes mais altas é clara. Querem ser tratados bem na terra da cuíca.

A melhor resposta para um filme cheio de clichês sociais e cinematográficos como “Turistas” pode ser encontrada em outra produção da Fox, o episodio dos Simpsons no Brasil. Afinal, autocrítica é sempre mais gostosa.

...e não me venha com chorumelos!