... e não me venha com chorumelos!

Insanidades e afins postadas pelas mentes mais obscuras que rondam o meio virtual.

segunda-feira, abril 24, 2006

Da Volta


De volta à pena. Confesso que nos mêses recém passados li e reli todos os furunfos. Se cheguei à uma conclusão? Nenhuma. O que não me desagradou nenhum pouco, pois foi a síntese de que o engenho aqui é de caráter catilogênico*. Mas senti a necessidade de que tudo aqui escrito possua um sentido, no conjunto da obra resultado da obra deste conjunto. Do contrário seria inócuo, vazio, tal como conversar com alguém que não saiba nada de futebol. Aliás, dialogar com um homem que não se interessa por futebol parelha-se a dialogar com alguém sem alma.
Pois bem, não fosse o acalorado clamor dos leitores chorumelianos pela volta das escritas perenes, não estaríamos tirando forças para continuar. Só pra constar, a culpa pelo nosso template estar ainda mais famigerado é do nosso amigo Tetinha, que de boa vontade se ofereceu para embelezar nosso espaço...sem sucesso até o momento, e que aposto o álbum de figurinhas da Copa do Mundo do Prometeu que não irá ler esta crítica aos seus serviços. Já é o segundo webdesigner que este blog derruba nas últimas temporadas, creio que o endereço do blog foi alocado sobre um cemitério xamã.
*Catilogênico, catilogência: Vide obra de ROMANI, B. - Universidade de Berkeley - EUA.

Do Ofício


Pois é. Semana passada resolvi comparecer à um evento empresarial de apoio à exportação no renomado e escorregadio prédio da FIESP, na principal artéria da cidade de São Paulo, a Paulista. Confirmei minha presença e fui nos conformes para o evento que marcado estava para às 9 da manhã. Devido às dificuldades no trânsito encontradas nas cercanias do oitavo círculo da paradisíaca cidade, cheguei atrasado em alguns minutos e correndo como um padre irlandês. Para a minha surpresa...: "Welcome Coffee até às 10 horas, depois terão início as atividades." Bom, se atrasado não estou, nada melhor que desfrutar do desjejum ao lado da nata do empowerment brasileiro. Na verdade o café é apenas pretexto para um rápido lobby entre os presentes, só me lembro de ter visto tanto cartão no jogo final da ascensão do Grêmio para a série A do Brasileiro ano passado. Tapinha nas costas pra lá, risada alta acolá, fulano apresenta ciclano, apertam mãos, trocam cartão e pronto, contato feito. Com toda minha influência no mundo empresarial fiquei mesmo foi de canto, só não menos infeliz que um sujeito que deve ter se esquecido de onde estava indo e compareceu indumentado com um casaco ao estilo Wagner Montes. Esse sim deveria estar se sentindo o substrato da bosta.

Das Impressões


Quando eram jogados redondos 30 minutos de café foi a hora e a vez do celular. Impressionante, todo mundo falando no celular. Alguns ligavam, outros atendiam. Os trechos de conversa que ouvi variavam entre "Faz a proposta...", "Me manda o projeto...", "Quanto à papelada...", "Eu estou aqui na FIESP..." e "Pode fechar o negócio...", frase esta que tive o privilégio de falar quando minha mãe me ligou perguntando o que fazia com a caixa de sucrilhos que eu deixei na mesa da cozinha.
Tinham também os que falavam baixinho e com cara de quem tá fingindo ser sério. Mas estava na cara que contavam vantagem pra alguém, falando que estavam tomando café de graça na Paulista. Aliás, quanto ao café fiquei impressionado. Nada mais nada menos do que o velho pãozinho com mortadela, em pleno metro quadrado mais caro do Brasil. E de quebra flagrei o auxiliar de atendimento (garçom) despejando um saquinho de Tang no que até então imaginara ser um suco natural.
Mas fechando com o celular, teve um momento em que parecia ser algum comercial. De 10 pessoas que haviam na minha visão, 9 falavam ao celular. Puxei o meu então para tirar uma foto e percebi que estava me incluindo de alguma forma no processo. Desisiti e tirei foto do pãozinho com mortadela, a qual não consegui postar aqui.

Do Espaço e seus Ruídos


Já satisfeito com o café resolvi verificar as condições do auditório. Muito bom diga-se de passagem. A fim de assegurar um bom lugar decidi por deixar a minha pasta sobre um assento bem posicionado para poder acompanhar o seminário. A pus, a retirei, hesitei e mesmo receoso da segurança de meus pertences convenci-me de que as somas ali furtadas eram de maior quantia. Rumei ao banheiro, pedra angular de qualquer instituição. Tudo muito prático e high-tech, lenço ao invés dos secadores elétricos ridículos, ponto pra FIESP. Foi então que conheci Camila, pernas torneadas, seios fartos, boca cor de açaí, um metro e oitenta de puro delírio e ousadia...Tô zuando. Foi então que percebi que uma das cabinas estava fechada, e no vão dava pra enxergar a calça social arriada de algum distinto senhor de negócios que estaria arrependido por não ter seguido seu instinto e se convencido de que palmito clandestino não é bom pro organismo. Sim, ele obrava. Confesso que ri alto, assobiei, andei pelo banheiro fazendo barulho com o sapato, fiquei quieto por um tempo e depois andei de novo...enfim, tive todo tipo de atitude que deixa apreensivo quem está fazendo quarteirão com queijo ( o número 2, ao menos no Mc Donalds) em um banheiro de parceria público-privado. O que dirá então na FIESP? Onde o sujeito que está lá te ouvindo pode ser um mega investidor que vai ouvir seus ruídos e em seguida te ver sair do toilette. Já era seu negócio amigo...muita cautela então.

Do Mais


Começa o seminário. Blá blá blá investidores de especulação estratosférica, condição do país, piadinha sobre o presidente da república e o uso indiscriminado de expressões em inglês (drawback, offshore, spinnoff...) saídas da boca de pessoas que você sabe que falam "maque donalds" e "gérls" em vez de girls. Quando pensava que minha viajem fora um mal negócio a coisa melhorou. Apresentaram a tal ferramenta, tudo muito útil e simples, muita informação, gente séria, projeto sólido....parabéns à União Européia. Teci minhas críticas a mim mesmo sobre o que utilizaria ou não e de que forma, sempre pautado pela reação do grupo de japoneses que estavam sentados na minha diagonal. Resumo dos meus critérios com os japoneses:

-"Silêncio com olhar de interesse" - é que se interessaram, querem mais informações, inclusive entender realmente; marco uma observação.

-"Silêncio cético" - é ruim, é balela, coisa de americano ou já temos um sistema melhor; eu risco de olho fechado.

-"Comentários isolados e unilaterais" - já existe, mas ressaltam algum fator que é melhor ou que eles (ocidentais) vão se fuder com aquilo; marco atenção.

-"Comentários multilaterais e euforia geral seguidos por ôôôô" - muito bom, bom negócio, pode investir, o ocidente é lucrativo; dou destaque positivo de olho fechado e nem procuro entender.

Da Síntese


Deixo o prédio, ando à exaustão com um sapato duro até quase cair meu pé. Almoço, assisto à um colunista do chorumelos ser atendido por uma broaca velha numa loja em detrimento de duas gostosas balconistas. Volto pro feudo. C´est fini.



Do Anexo



"Japonês é jóia! Japonês é quente!
Japonês apóia o projeto da gente!
Japonês tem ódio de americano;
Americano é bobo, japonês é crânio!

Japonês estuda! Japonês trabalha!
Japonês não falha, e também não avacalha!
O mundo vai ser deles, já estão quase lá!
Essa é a nossa chance, vamos aproveitar!"


Trecho de "Vamos virar japonês" - Ultraje a Rigor

Da Hora



Disco: Ê Batumaré - Hebert Vianna (1992)

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