Deus salve o Delivery
Domingo pós feriado é aquilo. Sozinho em casa e sem saco pra preparar meu próprio rango, resolvi retornar às origens do homem pré-histórico e sair em busca do meu próprio alimento, ou seja, um self service qualquer das redondezas. Aqui começam minhas críticas. Desde já deixo claro que odeio comer fora por certos motivos. O primeiro deles é que dia de domingo as pessoas costumam sair em família para almoçarem em restaurantes e afins sob o pretexto de que as esposas não querem lavar a louça na ausência das domésticas ou pela necessidade de dar um passeio com as crianças e tal. Com isso, o restaurante que nos dias de domingo às vezes é uma necessidade do mundo urbano-moderno, torna-se um lazer infeliz que congrega pessoas de diferentes costumes para o ato tão sagrado de comer. Digo sagrado porque o ato da refeição na maioria das culturas não bárbaras é uma forma de aproximar os parentes e familiares para versarem sobre os assuntos do dia, da semana, do mês etc... para que assim a família mantenha a unidade e não percam seus entes para outras "famílias" sempre dispostas a oferecer abrigo. Leia-se televisão ou qualquer outro vício.
Confesso que não costumo realizar refeições diárias em casa com familiares, mas isso se compensa imensamente com o fato de realizar frequentemente almoços com quase todos os parentes, o que mantem um vínculo maior com a parentada em geral.
Voltando a minha situação, rumei para o estabelecimento já com o intuito de preparar meu rango em uma marmita e voltar para casa afim de almoçar na santa paz. Como de esperado, uma fila homérica havia na porta do lugar aguardando mesa. Tá aí mais uma situação irritante. Acho inconcebível o fato de ter de aguardar para comer em qualquer estabelecimento, me sinto como se estivesse na fila do sopão gratuito de algum albergue. Nem no McDonalds é necessário esperar para comer! E este sim é um verdadeiro minador dos alicerces da família que comentei acima.
Mas enfim, na fila havia o esperado: pai, mãe, filho, filha, vó, tia, o namorado indesejado da filha, cachorro, preá...etc. Como eu iria fazer prato pra viajem e portanto não utilizaria mesa e, como eu adoro arrumar confusão em portas de estabelecimentos, já fui entrando sem maiores rodeios furando a fila e não dando satisfação pra ninguém a não ser pra mocinha que entregava a comanda na porta e que sabia o que se passava. Não deu outra. Uma senhora madama ranzinza bateu no meu ombro e praguejou:
Madama: "Psiu. Ô mocinho! Não sei se você percebeu mas tem uma fila aqui!"
Eu: "Bom proveito dela..."
Pronto, estava armado o circo. Como eu adoro ver o ser humano com todas suas sofisticações e polimentos se tornarem animais comuns nas horas que os instinto se faz latente, ou seja, comer. Um quer comer antes do outro e fodam-se as boas maneiras. Seguindo a praxe, a mocinha da comanda interviu explicando para a madama que o meu era para viajem etc... e para encerrar o assunto de forma ácida me ofereci para fazer uma marmita para a senhora sofisticada da fila. Nem fiquei para ouvir a resposta.
Lá dentro a imagem do inferno. Era gente se acotovelando na hora de montar o prato, garçons desesperados, criança jogando comida no chão, a outra comendo yakisoba pela boca e expelindo pelo nariz, e outras descontroladas na iminência de ferir, quebrar, derrubar e/ou danificar a outrem ou a si própria abrindo assim aquele berreiro de choro do seu lado. Sem contar a avó que vai junto, mastiga de vagar e/ou cheira naftalina fazendo com que os parentes duelem na hora de culpar a pessoa que teve a idéia de traze-la, tornando assim injustamente a pessoa que mereceria carinho e respeito em um encosto. Feito meu prato, até cheguei a encontrar a madama no caminho pro caixa, mas ela estava devorando uma rabada tão pré históricamente que nem me notou. Retornei para casa, onde pude fazer minha refeição decentemente e pensei... Deus salve o delivery.
...e não me venha com chorumelos!