Carpe Merdiem
Bão. Saindo da hibernação de vez em quando para os famigerados leitores, com o intuito de também apenas passar o tempo até o dia em que este brog seja famoso e "in", e consequentemente abandonemos ele por ofertas de emprego volumosas, furunfo mais uma daquelas stórias que não respeitam em nada a "netiqueta" da "blogosfera", e que só são encontradas aqui.
Por esses dias estava a ir da estação Barra-Funda (agora Parmeira Barra-Funda) rumo a estação Tiête do metrô de São Paulo, quando pelo título do furunfo você já deve imaginar o que me ocorreu. Sim, vontade de fazer o número 2, soltar o angú a baiana..chame como quiser. Pois bem, o metrô de São Paulo é foda. Passei por lá a vida inteira e nunca vi uma porcaria de sinalização de banheiro, a não ser aquele que custa 1 Real na própria Barra-Funda e aquele purgueiro na vasca do terminal Tietê. Acontece caros leitores, que eu já devia estar pelos idos da estação Marechal Deodoro e o caso, ou melhor, o ocaso urgia solução. Pensei: "Bom, vou chegar até o Tiête e lá eu resolvo..." Antes fosse, percebi que a natureza não permitiria chegar nem na estação República.
Pensei de novo: "Cacete, algo deve ser feito. Vou parar na próxima estação, lá eu vejo o que rola. Existem trocentos funcionários que trabalham dia e noite neste buraco...tem que ter banheiro." Já estava certo de minha decisão quando um pensamento interrompeu meu ímpeto. Sim. Lembrei-me da stória de um amigo que certa vez quis cagar na estação Ana Rosa, e pelo que me contara, havia sido um parto pra fazer os funcionários do metrô abrirem o banheiro. Hahahaha...além da lembrança engraçada, me acometeu a cena. Era simples, parar numa estação intermediária não ia funcionar. Imagine, você perguntando pros funcionários onde é o banheiro. Primeiro eles falariam que não existe, depois de muito insistir eles disponibilizariam um, mas sem condições de uso pra finalidade especifica do momento, até que você se faria entender. Daí então o funcionariado do metrô começaria em alto e bom tom:
-Ae! Sabe quem tem a chave daquele banheiro?
-Ué, usa aquele ali aberto.
-É que o cara aqui....zzzzzzzzzz. Entendeu?
-Ah tá... Sei lá. Ow, chama o bigode!
-Ow, você viu o bigode aí?
-Vi não, acho que foi almoçar. É horário de almoço...
-Ô Jeferson (segurança com rádio transmissor), dá um QAP atrás do bigode!
-O que é que vocês querem com o bigode?
-Preciso da chave do banheiro.
-Mas usa aquele ali aberto....
E começaria aquela velha stória até a hora que o segurança desse um QAP na frequência aberta e até o bilheteiro da estação da Luz saberia que alguém quer cagar na República. Além do mais, quando aparece um cujo anônimo chamado "bigode"....esquece amigão, daí pra frente só vai complicar mais ainda. Enfim, decidi chegar até a Sé pelo menos, e nos devaneios da stória que lembrara, o tempo passou. Já chegara na Sé. Desci e resolvi ir andando pro caminho normal, como se estivesse indo fazer baldeação pro Tietê e como se nada estivesse acontecendo, mas com os passos de alguém que está prestes a cometer um assassinato e sabe que pode desistir e voltar a qualquer momento. Não tinha volta. Pensei: "Vai ser aqui na Sé." E parti rumo ao balcão de informações pra realizar a fatídica pergunta, e onde você sabe que naquele dia e justo naquela hora no balcão, você será atendido por uma mulher. E gostosa de preferência.
Neste caminho, minha controversa e empírica teoria dos banheiros de estação intermediária começou a ruir. Pensei: "Puta que o pariu, cheguei até aqui pensando ser um bom negócio, mas agora realizo que estou querendo usar o banheiro público do metrô do centro da maior cidade da América Latina." O cenário que imaginei não era nada bom. Cheguei no balcão. Era mulher. Perguntei. Fui embora. Como se não bastasse, o banheiro ficava do outro lado da catraca, ou seja, sairia e teria que comprar outro bilhete de metrô na volta, só por causa de uma cagada. Mas vá lá.
Cheguei ao recinto. Não podia ser pior, creio que não preciso nem detalhar as condiçoes fito sanitárias do recinto, e ainda tinha fila. Uma das poucas vezes que me senti um cidadão brasileiro e da Latino América foi naquela fila. Juro. Tinha só umas 10 pessoas, mas dava pra fazer uma dinâmica ali tipo daquelas de aula de filosofia de colégio ou de entrevista de emprego, isso pois naquele curto espaço de organização social tinha um mendigo, ou melhor, vários, uma puta, um frei e um moleque de farda de tiro de guerra. E então, quem você salvaria? Ahn? Ahn? Faltou só um índio.
Na porta um funcionário com macacão azul e botas brancas fazia o ritual da alegria. Quando juntava 10 na fila ele ia passando de um em um, com um rolo de papel higiênico numa mão e dois dedos estendidos na outra em forma de pistola, dava exatamente 4 voltas com o rolo nos dois dedos, picotava e entregava olhando nos olhos de quem recebia. Chegou na minha vez e fui claro: "Campeão, estende 3 dedos aí." O caboclo riu, mas estendeu os 2 dedos de sempre, em compensação deu 5 voltas. Depois fiz as contas e vi que saí ganhando. A atitude do cara fora apenas aquela típica mania de quem já se fode o dia inteiro não quer obedecer ordem de mais ninguém.
No fim das contas dei sorte, pois justo na minha vez de adentrar numa das cabinas, uma faxineira falou: "Espera um pouco aí." Pensei: "Será o caralho?" Mas ela entrou pra limpar, lavar, desinfetar e tacar fogo no vaso. Nessa um gordo de terno, com cara de deputado, ao estilo Heráclito Fortes (foto), saiu da cabine ao lado. Eu era o sucessor da fila...mas falou que eu ia abrir mão da cabina cheirosa em detrimento do jantar de ontem do Sr. Heráclito. Nem a pau Nicolau. Fiquei e me preparei pros protestos já adiantando um "pode ir" pra quem estava atrás de mim. Quem estava atrás de mim, uma tia, olhou pra mim e pensou: "Até que dá pra aguentar ir depois desse rapazinho." O cobrador atrás da tia pensou: "Ir depois de mulher é bom negócio." O mendigo atrás do cobrador tava com cara de topar qualquer coisa e não saiu da fila por falta de credenciais sociais, e então a tia atrás do mendigo saiu da fila e foi. Antes o caviar de ontem do que o rango do restaurante Bom Prato do governo estadual de anteontem do mendigão. Coerente a senhoura.
Documento despachado e escritório limpo, comprei outro bilhete e continuei o trajeto do metrô, aliviado e com a certeza de que era mais um rapaz latino americano, agora certificado pelo banheiro da Sé. Pior que isso não pode me ocorrer. Pelo menos até eu viajar para Machu Picchu.
Por esses dias estava a ir da estação Barra-Funda (agora Parmeira Barra-Funda) rumo a estação Tiête do metrô de São Paulo, quando pelo título do furunfo você já deve imaginar o que me ocorreu. Sim, vontade de fazer o número 2, soltar o angú a baiana..chame como quiser. Pois bem, o metrô de São Paulo é foda. Passei por lá a vida inteira e nunca vi uma porcaria de sinalização de banheiro, a não ser aquele que custa 1 Real na própria Barra-Funda e aquele purgueiro na vasca do terminal Tietê. Acontece caros leitores, que eu já devia estar pelos idos da estação Marechal Deodoro e o caso, ou melhor, o ocaso urgia solução. Pensei: "Bom, vou chegar até o Tiête e lá eu resolvo..." Antes fosse, percebi que a natureza não permitiria chegar nem na estação República.
Pensei de novo: "Cacete, algo deve ser feito. Vou parar na próxima estação, lá eu vejo o que rola. Existem trocentos funcionários que trabalham dia e noite neste buraco...tem que ter banheiro." Já estava certo de minha decisão quando um pensamento interrompeu meu ímpeto. Sim. Lembrei-me da stória de um amigo que certa vez quis cagar na estação Ana Rosa, e pelo que me contara, havia sido um parto pra fazer os funcionários do metrô abrirem o banheiro. Hahahaha...além da lembrança engraçada, me acometeu a cena. Era simples, parar numa estação intermediária não ia funcionar. Imagine, você perguntando pros funcionários onde é o banheiro. Primeiro eles falariam que não existe, depois de muito insistir eles disponibilizariam um, mas sem condições de uso pra finalidade especifica do momento, até que você se faria entender. Daí então o funcionariado do metrô começaria em alto e bom tom:
-Ae! Sabe quem tem a chave daquele banheiro?
-Ué, usa aquele ali aberto.
-É que o cara aqui....zzzzzzzzzz. Entendeu?
-Ah tá... Sei lá. Ow, chama o bigode!
-Ow, você viu o bigode aí?
-Vi não, acho que foi almoçar. É horário de almoço...
-Ô Jeferson (segurança com rádio transmissor), dá um QAP atrás do bigode!
-O que é que vocês querem com o bigode?
-Preciso da chave do banheiro.
-Mas usa aquele ali aberto....
E começaria aquela velha stória até a hora que o segurança desse um QAP na frequência aberta e até o bilheteiro da estação da Luz saberia que alguém quer cagar na República. Além do mais, quando aparece um cujo anônimo chamado "bigode"....esquece amigão, daí pra frente só vai complicar mais ainda. Enfim, decidi chegar até a Sé pelo menos, e nos devaneios da stória que lembrara, o tempo passou. Já chegara na Sé. Desci e resolvi ir andando pro caminho normal, como se estivesse indo fazer baldeação pro Tietê e como se nada estivesse acontecendo, mas com os passos de alguém que está prestes a cometer um assassinato e sabe que pode desistir e voltar a qualquer momento. Não tinha volta. Pensei: "Vai ser aqui na Sé." E parti rumo ao balcão de informações pra realizar a fatídica pergunta, e onde você sabe que naquele dia e justo naquela hora no balcão, você será atendido por uma mulher. E gostosa de preferência.
Neste caminho, minha controversa e empírica teoria dos banheiros de estação intermediária começou a ruir. Pensei: "Puta que o pariu, cheguei até aqui pensando ser um bom negócio, mas agora realizo que estou querendo usar o banheiro público do metrô do centro da maior cidade da América Latina." O cenário que imaginei não era nada bom. Cheguei no balcão. Era mulher. Perguntei. Fui embora. Como se não bastasse, o banheiro ficava do outro lado da catraca, ou seja, sairia e teria que comprar outro bilhete de metrô na volta, só por causa de uma cagada. Mas vá lá.
Cheguei ao recinto. Não podia ser pior, creio que não preciso nem detalhar as condiçoes fito sanitárias do recinto, e ainda tinha fila. Uma das poucas vezes que me senti um cidadão brasileiro e da Latino América foi naquela fila. Juro. Tinha só umas 10 pessoas, mas dava pra fazer uma dinâmica ali tipo daquelas de aula de filosofia de colégio ou de entrevista de emprego, isso pois naquele curto espaço de organização social tinha um mendigo, ou melhor, vários, uma puta, um frei e um moleque de farda de tiro de guerra. E então, quem você salvaria? Ahn? Ahn? Faltou só um índio.
Na porta um funcionário com macacão azul e botas brancas fazia o ritual da alegria. Quando juntava 10 na fila ele ia passando de um em um, com um rolo de papel higiênico numa mão e dois dedos estendidos na outra em forma de pistola, dava exatamente 4 voltas com o rolo nos dois dedos, picotava e entregava olhando nos olhos de quem recebia. Chegou na minha vez e fui claro: "Campeão, estende 3 dedos aí." O caboclo riu, mas estendeu os 2 dedos de sempre, em compensação deu 5 voltas. Depois fiz as contas e vi que saí ganhando. A atitude do cara fora apenas aquela típica mania de quem já se fode o dia inteiro não quer obedecer ordem de mais ninguém.
No fim das contas dei sorte, pois justo na minha vez de adentrar numa das cabinas, uma faxineira falou: "Espera um pouco aí." Pensei: "Será o caralho?" Mas ela entrou pra limpar, lavar, desinfetar e tacar fogo no vaso. Nessa um gordo de terno, com cara de deputado, ao estilo Heráclito Fortes (foto), saiu da cabine ao lado. Eu era o sucessor da fila...mas falou que eu ia abrir mão da cabina cheirosa em detrimento do jantar de ontem do Sr. Heráclito. Nem a pau Nicolau. Fiquei e me preparei pros protestos já adiantando um "pode ir" pra quem estava atrás de mim. Quem estava atrás de mim, uma tia, olhou pra mim e pensou: "Até que dá pra aguentar ir depois desse rapazinho." O cobrador atrás da tia pensou: "Ir depois de mulher é bom negócio." O mendigo atrás do cobrador tava com cara de topar qualquer coisa e não saiu da fila por falta de credenciais sociais, e então a tia atrás do mendigo saiu da fila e foi. Antes o caviar de ontem do que o rango do restaurante Bom Prato do governo estadual de anteontem do mendigão. Coerente a senhoura.
Documento despachado e escritório limpo, comprei outro bilhete e continuei o trajeto do metrô, aliviado e com a certeza de que era mais um rapaz latino americano, agora certificado pelo banheiro da Sé. Pior que isso não pode me ocorrer. Pelo menos até eu viajar para Machu Picchu.
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...e não me venha com chorumelos!