... e não me venha com chorumelos!

Insanidades e afins postadas pelas mentes mais obscuras que rondam o meio virtual.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Bica na pouca vergonha

Hoje os chamados "escandalos" já não escandalizam tanto assim. Todos já esperam, ou sabem de alguma forma que as falcatruas estão em toda parte, seja no poder público ou privado, principalmente quando notáveis quantias de dinheiro estão envolvidas.

Não faz um mês veio à tona a tal da "Máfia do Apito". Houve todo um rebuliço como esperado, surgiram denúncias de toda parte e muitas acusações de todos os lados. É claro que esta é só a ponta do iceberg, e que a sugeira maior está longe de ser levada a público e muito menos de ser limpa.

Ninguém duvida que toda a cúpula do futebol esteja comprometida, dirigentes de clubes e federações, comissão de árbitros e até o tribunal de justiça. Nada cheira nem nunca cheirou muito bem neste meio. Este esporte tão mágico chamado futebol, volta e meia exala o cheiro podre de esquemas e armações. E é neste contexto sombrio, que por icrível que pareça, tive momentos de profunda alegria e satisfação.

O ídolo máximo do meu time nos dias de hoje, um jogador tido como calmo e tímido, que nunca deu muito espetáculo nos microfones, tomou uma atitude louvavel que me encheu de orgulho de ser santista e seu fã. O camisa 10 santista chamado Giovanni, somou toda a revolta que sentia contra todo o comando do futebol, desde os tempos em que tiraram seu título de campeão brasileiro de 95, suas passagens na seleção brasileira e chegando até sua volta ao Brasil (que deve lhe causar no mínimo um questionamento se seria melhor ter ficado pela Grécia).



A lambança do árbitro no jogo repetido entre Santos e Corinthians, foi apenas a gota d’água em meio a tudo isso. Seu chute para a arquibancada foi um gesto maior que um protesto contra o resultado da arbitragem em uma partida específica, foi uma bica contra toda a pouca vergonha que impera neste meio. Quem bom seria, se não só no futebol, mas em todos os lugares tivessemos mais pessoas assim.



Viva também a torcida santista, que colaborou para que a noite acabasse não com o gosto amargo que sente aquele que foi lesado e está impontende diante de tal quadro, e sim com a atitude de quem a qualquer momento pode levar tudo abaixo.

… e não me venha com chorumelos!


prometeu_chorumelos@yahoo.com.br

quinta-feira, outubro 13, 2005

Ler...Puta Coisa Chata

Pois e, caros leitores. Na era da informacao, da aldeia global e da hiperconectividade (e vocabulario “Veja”), devo confessar que ler e muito chato! Um saco! Um porre! Como ja disse o mestre Joao Gordo, depois que inventaram o videogame entao, ler se tornou coisa do passado.

Entre usos e gratificacoes do ato, no entanto, ha razoes para que se leia ainda que a contragosto. Para este badameco que vos escreve, a maior recompensa para se deixar o Winning Eleven de lado e abrir o jornal ou algum livro e o prestigio social que um cara antenado e literado possui no mundo ocidental. Nao fosse o fato de querer parecer informado em encontros sociais e nas linhas que escrevo para este honroso blog, talvez nem me depararia com Bernard Berelson e sua teoria de usos e gratificacoes do jornal. Hoje em dia, ate para alvissarar ao mundo que se detesta ler e preciso leitura. Um grande paradoxo que me pego aqui redigindo.

Ler tem um valor per se em nossa cultura. O ato de pegar um livro e poder dar um tapa em conceitos impressos carrega uma imagem de educacao e saber. E como ja disse o senhor Berelson, conhecimento e equacionado com poder. Talvez esteja ai a falta de vontade de muitos em querer resolver as mazelas educacionais de nosso pais. Porem, por mais que cantar com o Pele “ABC, ABC, toda crianca tem que ler e escrever” seja supimpa, eu prefiro fazer nada. Alias, ler so e bom para ficar tirando tituca do nariz.

Nao aconselho ninguem a ler caso nao precise. Toda vez que pego um livro ou um jornal me bate um sono incontrolavel. Dizem que ler e uma atividade ativa, enquanto outros meios de comunicacao promovem a passividade do receptor. Mas a inercia corporea quando se esta diante de um livro e foda. Bate aquele bode. Ja imaginou o que nao deve ser ler, por exemplo Nietzche depois de uma feijoada de sabado? O “caboco” morre de derrame. Fora isso, a hora nao passa. Ou se passa tem-se a sensacao de ter perdido tempo.

Como sou uma besta com numeros e materias exatas (meus resultados sempre acabavam em erro da calculadora), me vejo forcado a ler para me voltar a humanas encher a linguica com mais propriedade. Afinal, se for para fazer linguica, que seja linguica de Braganca Paulista.

O unico perigo de usar a leitura para parecer bim-bim, como eu faco, e desvirtuar e acabar virando intelectual. Anos estudando numa instituicao de fama internacional, dona de premios Nobel e Pullitzer, fomentadora de debates e discussoes e a unica coisa que aprendi e que intelectuais nao servem para bosta nenhuma. Nem para limpar as proprias bundas. Mas isso e um papo para outra hora, quando eu tiver menos coisa para ler.

E nao me venha com chorumelos!!!

terça-feira, outubro 11, 2005

Brasil, um país sem memória.



Dúvida:

Olá.
Sou consumidor da cerveja Antarctica que muito admiro, porém minha questão não vai neste sentido (do produto). Gostaria de saber porque a Antarctica parou de patrocinar as cabines eleitorais de papelão tão frequentes nas eleições até o início da década de 90. Grato desde já.
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Resposta:

Olá Caro consumidor,

Agradecemos o seu contato pois ele é muito importante para nós!!!!

Não dispomos da informação solicitada porque a AmBev foi criada no ano de 2000 a partir da fusão das Cervejarias: Brahma, Antarctica e Skol. Por isso, não temos informações anteriores a esse período.

Contamos com a sua compreensão.

Mantenha contato sempre.

Um abraço,

Alessandra
Serviço ao Consumidor Antarctica
disk@antarctica.com.br
0800-725 0003

segunda-feira, outubro 10, 2005

Semelhanças, revoltas e o que está na moda.

Não há por onde leitores. Para que esta lente do mundo que se chama chorumelos funcione é necessário às vezes fazer uso de imagens, afinal, dizem valer mais do que mil palavras. Por isso não me censurem se meus textos parecerem literatura de cordel em quadrinhos. Pois bem, este fim de semana resolvi mais uma vez me antenar, e me ligar ao que acontece de recente no mundo do cinema. Lançamentos, pré-lançamentos, os filmes mais comentados, etc. Me deparei com o recente filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate" ou algo assim. Olhei para o cartaz e pensei: "Putz, já vi essa bosta em algum lugar." É, mas como vocês devem estar pensando não foi na versão original, aliás, odeio filmes neste estilo "fantasiosos". Para mim tudo o que é muito chamativo, cheio de cores e apelos tipo figurino de novela de época da globo me irrita, ou melhor, irritar é pouco, me instiga um instinto destrutivo. Só há uma coisa que me causa mais fúria do que isto: dançarino de frevo. Dá vontade de sair bicando quando um para na sua frente com um guarda-chuva, passos ridículos e sorriso bobo. Não sei quem inventou o frevo, mas devia ser um louco varrido.



E quando mais me perdia em pensamentos que nem agora, me lembrei onde havia visto algo como aquilo. O tal do Charlie da fábrica tem o mesmo figurino do Alexander De Large, sendo mais direto...parece o cara do filme Laranja Mecânica. Como pode? Depois reclamam do comportamento de nossas crianças e tentam fazer coisas como proibir armas de fogo para diminuir o nosso massacre diário. Ah como esse mundo tá mudado. Antigamente aceitavamos a hipocrisia com mais classe...mas isso era nos idos de mil novecentos e cabine eleitoral de papelão da antarctica (em pleno dia de lei seca), já nem me lembro mais. Aliás, já solicitei esta dúvida ao SAC da Antarctica e espero um dia poder publicar a resposta aos leitores do chorumelos.



Mudando de pato pra ganso, ultimamente tem sido destacável a atuação do corpo diplomático brasileiro. Como um quase recente bacharel no assunto, não posso me furtar a comentar tal atuação, com seus altos e baixos é claro. A primeira atitude louvável é a que diz respeito a dançarina brasileira que morreu na Itália esses dias em circunstâncias radicais de se falecer, de overdose e sem roupa. Eis que o Itamaraty se recusa a pagar o transporte do corpo da finada para o Brasil, e a rede Globo de televisão faz uma reportagem (pequena mas significativa) sobre a recusa da instituição, mostrando os parentes humildes e toda aquela chorumelada numa cidade do interior. Oras cacete, era só o que faltava. A moçoila vai para a Itália, se prostitui, entope o nariz de pó e morre com a bunda de fora na casa de um goiaba famoso italiano e ainda temos que pagar a remessa de volta. Sinceramente, honrando o país é que a dita não estava...que se enterre como indigente.



Por outro lado, devo lamentar a balbúcia que se tem feito sobre a morte equivocada do brasileiro no metro de Londres. É claro que foi deplorável e imbecil a ação da polícia britânica e o rumo do julgamento dos culpados envolvidos. Celso Amorim reagiu enérgicamente ao fato e se postou de maneira muito mais agressiva do que eu esperava, de total acordo de minha parte e, faz-se mister que as chancelarias não dêem sussego enquanto os culpados não forem presos e queimados para servirem de exemplo aos demais infiéis. Porém já é demais promover a caravana que promoveram com a família da vítima à Londres. Porra, são pessoas simples, não vão ajudar em nada às investigações, e se tentativa se pressão for, é um ato infeliz creio eu. O resultado é o calvário dos humildes e coitados parentes que temos acompanhado. As imagens da via sacra da família de Jean não possuem nexo, o corpo diplomático brasileiro deveria ter evitado que tal saga se tornasse essa representação contemporânea de "Os Retirantes" de Cândido Portinari que se tornou.
Bom, para que este texto não fique tão formador de opinião, terminarei com algo bem suave:

In: Balizadoras de fanfarra.
Out: Cheerleaders.



...e não me venha com chorumelos!

quinta-feira, outubro 06, 2005

Que seja a Saideira

Depois que George Bush se reelegeu em novembro passado, não raro foram os comentários que ouvi de meus compatriotas sobre a insanidade do povo americano ao liberar a Casa Branca por mais quatro anos para esse chucro texano. Como nos tempos das monarquias absolutistas, Bushinho soube apelar para o divino e levou. Os 3 “G’s” (God, Gays e Guns) e a direita fundamentalista carregaram pelas mãos e entregaram a vitória ao Republicano.

Relembro esse fato para tentar entender o que está acontecendo com São José dos Campos. Local de importância nacional, no qual progresso e tecnologia se misturam à própria história da cidade, São José parece estar sendo invadida pela onda conservadora que engoliu as águias americanas. Enquanto criticávamos a distância, a ignorância e o radicalismo da ala religiosa gringa, um conservadorismo injustificável tomava, bem aqui no nosso quintal, as rédeas da política municipal. Aqueles que se espantavam com as frases de efeito de Bush – como a clássica “Deus quis que me tornasse presidente” – elegeram os vereadores que agora querem banir o funcionamento de bares após as 23 horas e a distribuição da pílula do dia seguinte na rede pública de saúde. (Será que algum sociólogo que, por acidente, venha a esbarrar com essas linhas pode desenvolver um estudo sobre a correlação entre desenvolvimento tecnológico e “revival” moralista? Por favor, ajudem a iluminar a ignorância desse que vos escreve...).

As leis em si (e minha posição sobre estas) são de menor importância se constatarmos, numa escala mais ampla, que a sua origem é primariamente baseada no subjetivismo do moralismo religioso. Usa-se o escudo da instituição familiar ou a inoperância governamental para tratar da segurança como desculpa. Não obstante, o cheiro de incenso de igreja sobrecarrega o ar de qualquer discussão visando validar a existência dessas leis. É tal processo simbiótico entre política e religião que deve ser combatido. A ressaca provocada por tal mistura, essa sim, é dura de curar. E não tem pílula que resolva.

Lá em 1648, o Tratado de Westphalia, o documento tido como pedra angular de Relações Internacionais como campo de estudo, já recomendava, ainda que indiretamente, que religião fosse extirpada do Estado. Mais tarde, pelos idos dos anos 70 do seculo XVIII, foram os arquitetos da independência americana que aconselharam a separação. Isso sem falar nos comunas que já profetizavam que o ópio tragado pelo mundo era a religião.

Ora, se numa democracia o Estado é laico, que se fechem as portas da política para o moralismo religioso!

Como podem olhar com ar superior para as incessantes imagens que vêm do Oriente Médio se aqui, debaixo de nossos narizes, atos da mesma espécie estão a ser cometidos? Claro, tudo ainda é micro se compararmos o conservadorismo joseense com os doidões do Taliban, mas isso é uma questão de escala. A inserção de valores religiosos a certos aspectos pode ter o seu valor, como já sinalizava a Teologia da Libertação. Todavia, a influência da Igreja em partes vitais do Estado - pela qual crenças são impostas independentemente de seus resultados junto à população - gera exclusão, semeia o preconceito e silencia diálogos. A pequena diferença entre crendices e cretinices não é apenas ortográfica.

Para piorar o cenário para os puritanos de plantão, muitas das ações com caráter moralista resultam no total oposto. Basta lembrar que nos anos 20, os EUA, baseados na sua direita religiosa, estabeleceram a Lei Seca. Resultado: crescimento das indústrias de fundo de quintal (os famosos “bootlegs”) e o aumento do crime organizado. Pode-se afirmar também que muitas das cenas como as do massacre de Columbine, no qual jovens foram baleados na escola pelos próprios colegas, são resultados das mazelas impostas à juventude daqui pela sua ala conservadora. Gerações inteiras são alçadas a um limbo insuportável. O quão longe estamos disso, é uma incógnita que não quero ver testada.

Em nome de um moralismo inexplicável, proíbe-se o lazer noturno fora de casa e, sem as pílulas, aumentar-se-á o lazer noturno entre quatro paredes. Gera-se um ciclo interminável onde as classes na base da pirâmide terão mais filhos, aumentando mais ainda nossa chaga social e obrigando os bares a cerrar as portas cada vez mais cedo.

Permitam que eu use as palavras do mestre Hunter Thompson: “the weight of [‘moralists’] sleazy, hypocritical bullshit is still heavy on the scales of our time.”